EU E "ELA"... OLHANDO O ESPELHO !!
Eu e "Ela", as melhores amigas de sempre. Nascidas no mesmo, dia e hora e até hoje, vivemos sempre juntas, quase parecemos "duas" em "uma".
Hoje acordei com vontade de "ter" com "Ela" uma conversa longa, quiçá demais mas, voltar atrás no tempo, são muitas horas para chegarmos ao dia de hoje, ao momento de "agora".
Olhei-me no espelho, ao mesmo tempo olho para "Ela" e pergunto-lhe...
Que se passa contigo ? ultimamente tens andado muito estranha, diria mesmo inquietante, como se o medo te assole do nada ou do tudo...!
Ficas calada "olhas" para mim como quem pensa... - pergunta mais tonta - , e tens razão, pois se eu sei tudo de ti !
Pensa que talvez eu queira de ti um "comportamento" diferente, uma outra perspectiva de olhar para trás, mas afinal passámos as mesmas coisas.
Pais separados, amor pouco ou nenhum, o desentendimento era deles mas, "nós" sofremos na pele, fisicamente e psicológicamente.
Crianças desamparadas, mãe a trabalhar, dinheiro que ía para a ama... "molestadas" pelo Sr. da casa onde "fomos" criadas desde bebé, até aos 7 anos, altura em que entrámos na escola (quando os abusos se acentuaram mais, depois aos fins de semana, porque as mães trabalham sempre). Tudo se passava sob ameaças, felizmente que não fomos "violentadas"... recordaste ? claro que sim, ninguém consegue tirar isto da mente e do corpo.
Entrámos na escola e curiosamente "ambas" boas alunas mas, a primária acaba e param os estudos.
Para não "andarmos" na rua (os nossos amigos eram rapazes) as meninas nesse tempo, estavam em casa à janela, a verem-nos jogar à bola, à carica e tudo o que brincam os rapazes... até nos chamavam "Maria Rapaz"... lá vamos nós aos 10 anos de idade, trabalhar na costura (hoje dizem que é crime) para "nós" foi óptimo, podermos aprender e, crescer como seres humanos, livres de perigos, que eram o "pão nosso de cada dia", naqueles tempos.
As mães trabalhavam muito, como serviçais, domésticas, ficavam por lá, ou voltavam para casa, tarde e sem comer, embora as sopas de pão escuro com café de cevada, "nos" enchesse a barriga e íamos para a cama, aconchegadas, num minúsculo, quarto alugado.
Passámos maus tempos minha "amiga inseparavél" mas, aprendemos a encarar a Vida a defendermo-nos do mal e felizmente que enveredámos pelo bem.
Decidimos estudar à noite, inteligência (modéstia à parte) não nos faltava. Estudámos sempre "juntas", à noite depois de sair da costura, cansaço e sem livros, só com apontamentos, que nos ajudavam imenso e com o empréstimo, de livros dos colegas.
Já com algo que nos abrisse as portas com maior relevancia, e namorado certo, para casar, o que "fizemos", mais tarde... passámos por uma adolescência, sem grande interesse, para passarmos aqui tempo, com algo que nada tem de relevante.
Estávamos no final da Guerra das Colónias era tudo muito confuso, porque as "costurerinhas que liam livros emprestados para se instruirem (em todos os aspectos) com a ansia de saber sempre mais e tiveram uma evolução muito marcante. E isso foi compensatório, excelente na diferença, que conseguimos com muito custo mas... na base da relação do namoro não foi muito bem entendida.
Casámos, no mesmo dia, (siamesas mentais eu e "Ela") é o que me vem à cabeça para "memorizar" esses tempos. Fomos "mãe" e apesar dos 7 anos de namoro, não nos conhecíamos assim tão bem.
Um divorcio "duplo" eu e "Ela", dois segundos casamentos eu e "Ela", e filhas em ambos, eu e Ela.
Pensamos sempre que vai ser diferente, mas se ainda tínhamos "sonhos", desmoronaram-se porque a rotina é instalada, e depois da paixão, fica a amizade, e o dia a dia para criar e ver crescer os filhos.
E agora responde-me sinceramente ... sabes o que é aquele famoso Amor que é tão falado ? Sentiste-te amada alguma vez ?
Pois minha querida, eu não creio nesse amor. Desejo, paixão, suscitámos com toda a certeza mas... isso só tem, o tempo que tem, e quase sempre meramente ilusório.
Amor só o "senti" recebido e dado, quando o concebo e aceito incondicionalmente, entre pais e filhos e agora acrescento pelos netos.
Vamos lá "menina" volta à realidade, e encara que estamos a caminho do fim... o resto vai ser sempre o resto, e eu não gosto de "Vidas" de "restos".
Então minha querida, soube bem esta conversa ? Sei que sim, afinal eu e "Ela" passámos tantas coisas "juntas"... boas e más um pouco de tudo, a Vida deve-nos muito, mas temos de pensar que o "saldo" nem foi sempre negativo.
Vamos acabar com este resumo de "vidas"... é simplesmente, como tantas mais, que apenas preferem fantasiar e "dizer" que está tudo bem.
Até já virou slogan ... ESTÁ TUDO BEM ou VAI FICAR TUDO BEM, só que não vai, na maioria das vezes... NÃO VAI MESMO !!
Até uma outra oportunidade... estarei sempre ao dispôr !!
®M.Cabral_pt (in - momentos de ontem e de sempre )