21.03.25
Maria - Memórias de uma Vida (conto)
Maroussia
Sábado, 12,00 hrs. A campainha da porta repete-se por 3 vezes, sinal que é de "casa". Ouço a chave "girar" do lado de fora, e de seguida e os passos do Sr. Engº Afonso e da sua prole, o menino Dinis de 15 anos, e o Felipe de 10.
Com eles Maria está dispensada de formalidades, daí não os ter ido receber, e assim seguem directos à sala, para os devidos cumprimentos à Sra.
Não demoraram 5 minutos, para entrarem na cozinha, e depois dos cumprimentos como sempre faziam, sem cerimónias, o menino Afonso, (melhor escrevendo) Sr. Engº. Afonso, com um sorriso "maroto" olhando para os seus meninos, diz sorridente : Este cheirinho até abre o apetite a quem não o tem, e é coisa que não nos falta, mais ainda aos sábados, porque será ?
Claro que foi uma risada entre todos.Só espero que esteja tudo ao vosso gosto, porque foi feito com muito amor e carinho, para mais uma refeição especial de família, responde Maria com um sorriso.
Os meninos têm o vosso bolo preferido de sobremesa, já há algum tempo que não o fazia. Agora façam o favor de se prepararem para ir para a mesa, que vou servir o almoço, está na hora.
Os "Meninos" dirigiram-se à sala das refeições, para ocuparem os seus lugares, com a Sra. à "cabeceira" da mesa, como foi sempre seu hábito.
Entretanto Maria, na cozinha, compunha a Terrina da sopa, e as travessas de modo a começar o serviço que lhe competia e ela tanto gostava.
Espero que gostem e muito bom apetite, disse antes de sair e voltar para a cozinha. Pouco Falavam enquanto comiam, deixavam para depois as conversas, quando passavam para a sala onde o Sr. Engº tomava o seu café com o seu cognac francês, em balão aquecido, como gostava. A Sra. era o mesmo de sempre, um cházinho de cidreira, sempre foi assim depois das refeições.
E assim aconteceu, depois de se dirigirem à sala após a refeição, os meninos Diniz e Felipe, foram para o antigo escritório do pai, onde estavam computadores e jogos. Não só para estarem entretidos, porque no jardim estava frio mas, também porque o papá queria ficar a sós com a Tia Constança.
Depois de se "situarem", como estavam, a nível de saúde , profissionalmente, os meninos nas escolas, o Sr. Engº com um sorriso terno, diz a sua Tia, que precisava dos seus sábios e acarinhados conselhos, para uma decisão a tomar.
A Sra. responde-lhe prontamente: Meu querido, estarei sempre aqui para o que precisares, mas, fala depressa que está a deixar-me inquieta. Passa-se alguma coisa de grave contigo ou com os meninos ?
Por favor minha Tia, aquiete o seu coração, que nada de mal se passa connosco, mas tem alguma certa "gravidade" para mim, disse com um sorriso, num semblante entristecido.
Conta-me tudo o que se passa, só assim saberei o conselho a dar-te mas, com um sorriso meio desconfiado, não sei se estarei à altura dessa decisão.
Mas conta, conta lá tudo, podes começar, disse sorrindo.
Pois então, lá vai, minha querida Tia, sabe como eu amava e ainda amo, a Luizinha, e que estes 8 anos, nunca olhei para outra mulher ...
Claro que sei meu querido, todos os dias rezo pela sua Alma, e que apesar de estar em bom lugar, onde já não sofre, jamais, por qualquer pessoa que com ela privou, será esquecida.
Muito menos por ti, um amor desde crianças e como tenho vistos poucos. Assisti ao teu sofrimento, a uma dor imensa, que te corroía o coração todos os dias, mas tinhas de ser forte pelos meninos.
Sempre fiz o que podia mas, tudo isso para mim era pouco, tinhas ainda os teus pais e aos poucos, como nada podemos fazer, temos de nos render à evidência, do que todos temos como a única certeza, na vida.
Estiveste no fundo, temi por ti, mas alguém esteja onde estiver, te protege. Com um abraço forte e os olhos marejados de lágrimas de saudade... Acalmaram aquele momento de dor e emoção sentida.
Então meu querido Menino "grande, diz-me o que te preocupa ? Embora eu quase que sou capaz de fazer uma ideia. Vá lá "desembucha" que é melhor, diz-lhe a Tia sorrindo.
Ora vamos lá minha Tia... Aqui este "menino" sem saber como, foi encontrar uma colega do 1º ano da Faculdade, num evento de uma das empresas com quem trabalho, algo que jamais me passaria pelo pensamento, o certo é que aconteceu.
De início, pensei que conhecia aquela pessoa, mas não conseguia recordar de onde, apenas aquele rosto era de alguém que eu já tinha visto.
Num intervalo para um café, foi ela mesmo que estando a meu lado, no balcão, me pergunta se eu não tinha andado no IST em Lisboa. Claro que respondi afirmativamente e olhando-a bem porque estava frente a frente, reconheci aquele rosto e perguntei se ela se recordava de mim após tantos anos, ao que ela assentiu e inclusive disse: Recordo sim... Afonso se não estou enganada, enquanto deixava escapar um sorriso.
Realmente sou o Afonso, respondi e não é nada abonatório de minha parte eu não me recordar do teu nome, embora o teu rosto, não seja de todo indiferente... Ao que ela me responde eu sou a Francisca, e fomos colegas de turma. Segui engenharia e tu?
Agora que me dizes o nome, lembro que havia uma Francisca na minha turma, por sinal uma jovem muito bonita, algo que posso constactar que não mudou nada.
Mais um pouco de conversa informal, sobre casamentos e ambos estávamos livres eu por uma "perda" dolorosa, ela por um divórcio, que por vezes também não é fácil.
Trocámos nrs de contacto, e temos enviado algumas mensagens mutuamente. Em boa verdade, estou a sentir-me bem com esta situação. Quero conhecê-la melhor... sem pressas.
Eis o "imbróglio" no bom sentido em que estou metido.
A Tia olhava sorridente para aquele Menino Grande, que estava tão confuso, que foi procurar, aconselhamento junto de quem para ele, era a pessoa que mais o poderia ajudar, e com isso sentiu um grande orgulho, pela demonstração de confiança, e amor dada.
continua...
®M. Cabral (in - "Conto de ficção" ) Parte 4